Tuesday, May 22, 2007

"Sou rapaz honesto... trabalhador veja só minha mão..."

Estava lá. Acabado de acabar. Trabalho, aula, outro trabalho e um beijo de boa noite na namorada. Em casa antes da meia noite como mandam os conselhos da vovó. Portão entreaberto e um ligeiro bate-papo com os vizinhos. Nos dias de hoje Jorge Mautner poderia dizer até mesmo que eu estava todo errado. Muito errado.

Lá com meus desacertos de descuidado, cadeado e correntes em uma mão, metade do corpo dentro de casa e a cabeça para fora. Chega ele, o dono da razão. Ele que estava em seu horário de trabalho, diferente dos bandidos de outrora: era uma evolução – ou regressão – dos antigos malandros, ou “descuidistas”, que andavam pela rua atrás de uma bolsa dando mole, pegavam, corriam e iam usufruir do fruto do furto. Esses neo-saqueadores evoluíram geneticamente. Estão mais ousados. Com toda frieza sacou um revólver preto – meio enferrujado também–, fitou-me com olhos devoradores e medrosos, deixou-me na mira e pediu com toda delicadeza, digna de uma dama européia: “quero apenas o celular”. Após entregue o objeto de desejo, mandou-me entrar. Com toda autoridade que lhe cabia, e a mim, bastou a reclusão. Tranquei os portões, as portas e os outros portões finais. Finalmente estava seguro. Encarcerado.

Meu amigo assaltante, que levou meu telefone novinho me deixou com saudades de um gostinho nostálgico onde só se roubavam relógios. Com uma mão dentro da camisa ou no máximo um canivete. Mas ele me deixou a vida e o medo. Quem sabe pra me pegar em outra esquina e eu possa mantê-lo abastecido sempre que precisar.

A polícia apareceu. Meia hora depois. Sirenes altas e muita luz. Talvez pra avisar ao larápio que estavam chegando e lhe dizer que deveria correr mais. Aliás, correr pra que? Ele já está protegido. Já nasce assim, como um Rolls-Royce que sai de fábrica já blindado. No máximo levaria uns cascudos e semana que vem estaria solto para procurar mais descuidados. Eles lá que poderiam fazer alguma coisa estão também protegidos. Os praças estão em suas poltronas rodeados de armas. Os judiciários e legislados estão protegidos e inatingíveis. Talvez seja melhor viver aqui nessa brincadeira à lá Tom e Jerry, sentindo saudades do tempo em que quem aterrorizava na noite era a turma do Manda-Chuva, sempre com o guarda Belo de olho.

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Mauricio Oliveira

1 comment:

Magaliana said...

vou chorar...
caralho esse texto num tá pouco perfeito não!
parabéns...agora é só fazer outros desse tipo na faculdade e tu é laureado
hehehe